Não existem dúvidas que a amamentação e o leite materno é muito benéfico para os nossos bebés. Por todas as propriedades e composição que permite a nutrição completa e anticorpos para diversas doenças. Mas mais do que tudo transmite o sentimento do amor, carinho e aconchego criando um vínculo afetivo de segurança entre o filho e a mãe.
Mas sabia que este ato de amamentar, ou seja o momento em que o bebé mama na maminha da mãe é essencial para o desenvolvimento de todas as estruturas e funções orais e do crânio?
É através do contato corporal durante a amamentação que a criança alivia o trauma da separação brusca ocorrida ao nascimento, desenvolve seus sentimentos de bem-estar, segurança, afetividade, que lhe proporcionam a capacidade e confiança para procurar novas experiências com o mundo.
Vantagens da amamentação para a mãe:
Mais económico, fácil e prático
Favorece o relacionamento com o bebé, mantendo o equilibro psicológico
Sensação de prazer que ajuda a solidificar o afeto pelo bebé
Acelera a involução uterina
Previne a hemorragia pós-parto
Diminui a incidência de cancro e outras doenças mamárias
Vantagens da amamentação para a boca e outras estruturas no bebé:
Representa o fator inicial do bom desenvolvimento dentofacial
Permite uma oclusão dentária normal (forma como os dentes encaixam uns nos outros)
Confere a mastigação correta futura
Promove o equilíbrio neuromuscular dos tecidos que envolvem o aparelho mastigatório
Previne o síndrome do respirador oral (meninos que respiram maioritariamente pela boca)
Estabelece uma relação correta entre as estruturas duras e moles do aparelho estomatognático (conjunto de estruturas orais que desenvolvem funções comuns)
Potencia a tonicidade e postura corretas da língua e lábios em perfeito selamento
É através da boca que o bebé começa a relacionar-se com o mundo. É um órgão muito sensível, que capta as maiores sensações de prazer ou desprazer. Por isso, se diz, a amamentação é um ato de ternura que deve satisfazer as duas fomes da criança: a biológica, do leite que supre as suas necessidades corporais, e a afetiva, de se sentir aceite e querido. Assim, como no período no qual o bebé vivia no útero e recebia diretamente as sensações da mãe, também tem a percepção das condições emocionais dela enquanto é amamentado.
A amamentação é um processo complexo que coloca todo o aparelho da mastigação, músculos da face e boca em trabalho. São acionados vários reflexos infantis quando o bebé é alimentado:
o reflexo de busca ou rotação, que faz com que o bebé procure o mamilo enquanto abre bem a boca para apreender a maior porção possível de tecido mamário. Quando o bebé tocar a bochecha ou a boca no mamilo se voltará na direção do estímulo, de boca aberta, tentando apreendê-lo.
o reflexo de sucção, que é acionado quando algo toca o palato. O ato de sucção compreende duas ações: tração do tecido mamário para formar um bico; e pressão da aréola tracionada contra o palato com a língua, que resulta em movimentos rítmicos da mandíbula. estes movimentos criam pressão negativa, e com a ação peristáltica da língua, ordenha o leite do peito e empurra-o para a região posterior da cavidade oral, estimulando os reflexos de deglutição e respiração.
É importante salientar que existem estes dois reflexos, o da busca ou rotação e o reflexo da sução. No entanto não existe o reflexo para ajudar a criança a colocar o mamilo na boca. Este reflexo tem que ser adquirido e aprendido com a ajuda da mãe.
Mas afinal como é a mecânica fisiológica da amamentação?
Resumindo a mecânica fisiológica da amamentação: o recém-nascido ordenha o peito materno e com os lábios deteta o mamilo, contraindo-o firmemente (selamente hermético). O rebordo correspondente aos incisivos superiores apoia-se contra a superfície superior do mamilo e parte do peito. A língua, por baixo, funciona como válvula controladora, enquanto a mandíbula realiza movimentos para a frente e para trás, além de deslocamentos no plano horizontal, sincronizados com a deglutição (ato de engolir) e respiração. Esses movimentos extraem o líquido lácteo do peito para a boca ao gerarem pressão negativa dentro da boca, realizando três sucções para cada deglutição (3:1) e apresentando um ritmo determinado pelos centros reticulares que pode persistir até à idade adulta.
Pelo descrito anteriormente conseguimos facilmente entender que todos os músculos da mastigação estão envolvidos nesta mecânica. A mandíbula posiciona-se mais anteriormente; alguns músculos mastigatórios como o temporal, o pterigoideo lateral e o milo-hioideo iniciam sua maturação e reposicionamento; a língua estimula o palato (céu da boca), evitando que a ação dos bucinadores seja perturbadora; e o músculo orbicular dos lábios mostra-se eficiente na orientação do crescimento e desenvolvimento da região anterior do sistema estomatognático. Assim, há integração entre a recepção de estímulos corretos e as respostas adequadas. Esta integração conduz ao crescimento e desenvolvimento normais dos componentes do sistema estomatognático.
Já reparou que os recém-nascidos têm “beicinho”?
Quando nascem os bebés apresentam o queixinho para trás? Tanto que até se fala muito no beicinho do recém-nascido! Até à época do nascimento dos primeiros dentes (entre os 6 e os 14 meses de vida), é necessário que o queixinho do bebé já esteja numa posição mais para a frente. Este fato garante uma articulação correta entre os dentes de superiores e os dentes inferiores.
A amamentação, além de estimular o crescimento do queixinho (mandíbula) para a frente, reforça o circuito neurofisiológico da respiração. Atua excitando as terminações neurais das fossas nasais com o seu consequente desenvolvimento e dos seus anexos. Esta característica reflete-se favoravelmente no desenvolvimento da maxila. Desta forma os circuitos neurofisiológicos são desencadeados durante o primeiro ano de vida.
Toda esta mecânica faz-nos pensar que de facto isto foi tudo muito bem pensado! Alguma alteração nesta sequência pode alterar o desenvolvimento da boca e das estruturas envolventes. Muitas vezes desencadeia-se a respiração predominantemente oral e as denominadas classes II (queixo muito para trás).
Se não for possível a amamentação os pais devem procurar um biberão mais adequado e que permita uma mecânica semelhante a esta descrita na amamentação materna.