O flúor é considerado uma das medidas de prevenção da cárie dentária com maior impacto.
No entanto têm sido várias as discussões em torno deste tema, e existem opiniões distintas entre os profissionais de saúde. Esta é uma das perguntas mais frequentes no meu consultório: “devo dar flúor ao meu filho?”, “devo usar pasta com flúor”? “O meu filho deve tomar comprimidos de flúor?” Pois então vamos esclarecer o assunto.
Diversos estudos científicos apresentaram resultados na diminuição da prevalência (diminuiu o número de cáries na população mais jovem) da cárie dentária devido ao uso do flúor. Mas, ao mesmo tempo, verificou-se um aumento da fluorose dentária. A fluorose dentária manifesta-se por manchas nos dentes, geralmente esbranquiçadas, decorrentes da ingestão de pequenas quantidades de flúor durante a formação dos dentes. A ingestão de quantidades maiores de flúor pode até ser fatal, devido à sua toxicidade.
Flúor sistémico (ingerido):
Água de abastecimento
Como tal, a administração de gotas orais e comprimidos, que até há pouco tempo eram recomendados pelos profissionais de saúde (pediatras, médicos de família, clínicos gerais, médicos estomatologistas, médicos dentistas) dos 6 meses até aos 16 anos, foi limitada, devido à possibilidade de toxicidade.
Em Portugal Continental, os valores são normalmente baixos, e as águas não estão sujeitas a fluoretação artificial. Nos Açores e na Madeira existe um elevado teor de fluoretos na água daí que deverá ser feita uma verificação constante e a correção adequada. A quantidade de flúor a administrar depende do teor deste elemento nas águas de abastecimento.
A Organização Mundial de Saúde propõe o valor de 1 ppm e limite de 1,5 ppm de flúor nas águas, referindo que valores superiores podem contribuir para o aumento do risco de fluorose.
A Sociedade Espanhola de Odontopediatria defende que para o elevado risco de cárie dentária deve-se recorrer a aplicações de verniz de flúor diretamente nos dentes e a tratamento dentário com produtos fluoretados para remineralização dentária, no consultório, bochechos com fluoreto de sódio e uso de pastas dentífricas com flúor.
Evidências científicas mais atuais defendem que este é o protocolo de atuação indicado, em detrimento da administração dos comprimidos de flúor.
Flúor tópico (aplicado):
Pasta dentífrica
A pasta de dentes com flúor constitui uma forma de aplicação tópica de flúor. Todas as pastas têm indicação da quantidade de flúor presente na sua composição, geralmente descrita em ppm (partes por milhão). Tenha atenção a este valor quando vai ao supermercado e adapte à idade do seu filho.
Geralmente, em Portugal, quase todas as pastas contêm flúor na sua composição. Existe uma exceção bastante conhecida: a pasta tradicional Couto!
- Até aos seis anos está indicada uma pasta de dentes “júnior” com 1000 a 1500 ppm de flúor.
- A partir dos seis anos já pode utilizar a pasta de dentes para adultos, mas sempre na quantidade igual ao tamanho da unha do 5º dedo.
Bochechos com flúor
As soluções para bochechos, recomendadas a partir dos 6 anos de idade, têm sido utilizadas em programas escolares de prevenção da cárie dentária, em inúmeros países, incluindo Portugal. São recomendadas a crianças de maior risco à cárie dentária mas a sua utilização tem vindo a ser restringida a crianças que escovam eficazmente os dentes.
Saúde oral em Pediatria |Acta Pediatr Port 2009;40(3):126-32